É nas dúvidas que se consome meu combustível
Vêm em pés de lã
De mansinho,
na calada de uma madrugada de nevoeiro
Depois alojam-se,
parasitas
Sugam meu ar comburente, moem meu cérebro
Lá, no centro das minhas convicções
Porque um nunca é um
são sempre dois
Esta e aquela
Qual é que escolho?
Se escolho esta porta
a outra fica sempre por abrir
Porque não me deste a chave antes?
Agora é tarde,
eu já entrei nesta porta
Não sei para onde vou mas conheço este caminho
já por aqui andei antes
Antes de tudo ou antes de nada
Se cá voltei foi tudo ou nada?
Já me cansam os pés,
vou parar aqui
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Conversas d'olhos
Um café, um bar, uma mesa, quatro cadeiras. Só ocupamos duas. As outras ficam, nem nuas nem tristes, olhando-nos. Querem de nós, querem que façamos o lugar de quatro.
“Gosto de ti porque tens conteúdo.”
Recordo quando o disseste. Recordo os teus olhos quando o disseste. Recordo o trago que deste depois. O teu copo molhado de fora mostrando o frio de dentro. De dentro do copo. Talvez tenhas feito a vontade às cadeiras (talvez, se com vida se pintassem, tivessem esboçado um suspiro palpitante e aguardado o desenrolar).
Não recordo se ficaste vermelho, estava escuro. Recordo a música, recordo o meu embaraço. Sorri, não disse nada, projectei os olhos lá longe, numa qualquer prateleira. Fiquei embaraçada por ti, imaginando o teu embaraço ao dizê-lo. Tento decifrar que te disse a ti este momento. Imagino-te combatendo hostes de barreiras, de distâncias, de contenções, de portas e mais portas e mais chaves. Tudo pelo meu conteúdo.
Imagino, depois de toda esta luta, a sede que a evidencia no copo que levaste à boca, que te tenhas sentido entre a esperança e o desalento. Esperançoso que eu tivesse entendido tua luta, tua conquista, o quanto te custara dizer aquelas palavras todas e juntas. O desalento, sim. Desalento de saberes que seria pouco. Que a tua batalha, tuas espadas, teus monstros são pouco. Que eu provavelmente quereria mais – mas ninguém consegue duas batalhas seguidas.
O curioso de tudo eram os teus olhos. Não pretendo banalizar, já vi muitos olhos inexpressivos. Olhos são só olhos. Mas os teus às vezes queriam saltar, falar por ti. Quase tinham a ousadia que te faltava e depois logo fugiam. Nunca os decifrei bem mas foi por eles que te quis ver mais vezes. A minha esperança era que eles falassem mais que tu e que tu, depois de denunciado por eles, falasses por ti (em modo mais simples que conversa de olhos). Não sei quantas vezes insisti, sei que um dia entendi que entendia só partes, que eram poucas. Despedi-me deles nesse dia. Eles entenderam, despediram-se de mim, ao longe, sem muito alarido: porque eles sabiam mas tu ainda não. Era uma despedida prolongada.
Guarda-me. Um dia quando tu fores os teus olhos relembra-me. Abre esta porta, sobe as escadas, toca. Também tenho um copo para te matar a sede.
“Gosto de ti porque tens conteúdo.”
Recordo quando o disseste. Recordo os teus olhos quando o disseste. Recordo o trago que deste depois. O teu copo molhado de fora mostrando o frio de dentro. De dentro do copo. Talvez tenhas feito a vontade às cadeiras (talvez, se com vida se pintassem, tivessem esboçado um suspiro palpitante e aguardado o desenrolar).
Não recordo se ficaste vermelho, estava escuro. Recordo a música, recordo o meu embaraço. Sorri, não disse nada, projectei os olhos lá longe, numa qualquer prateleira. Fiquei embaraçada por ti, imaginando o teu embaraço ao dizê-lo. Tento decifrar que te disse a ti este momento. Imagino-te combatendo hostes de barreiras, de distâncias, de contenções, de portas e mais portas e mais chaves. Tudo pelo meu conteúdo.
Imagino, depois de toda esta luta, a sede que a evidencia no copo que levaste à boca, que te tenhas sentido entre a esperança e o desalento. Esperançoso que eu tivesse entendido tua luta, tua conquista, o quanto te custara dizer aquelas palavras todas e juntas. O desalento, sim. Desalento de saberes que seria pouco. Que a tua batalha, tuas espadas, teus monstros são pouco. Que eu provavelmente quereria mais – mas ninguém consegue duas batalhas seguidas.
O curioso de tudo eram os teus olhos. Não pretendo banalizar, já vi muitos olhos inexpressivos. Olhos são só olhos. Mas os teus às vezes queriam saltar, falar por ti. Quase tinham a ousadia que te faltava e depois logo fugiam. Nunca os decifrei bem mas foi por eles que te quis ver mais vezes. A minha esperança era que eles falassem mais que tu e que tu, depois de denunciado por eles, falasses por ti (em modo mais simples que conversa de olhos). Não sei quantas vezes insisti, sei que um dia entendi que entendia só partes, que eram poucas. Despedi-me deles nesse dia. Eles entenderam, despediram-se de mim, ao longe, sem muito alarido: porque eles sabiam mas tu ainda não. Era uma despedida prolongada.
Guarda-me. Um dia quando tu fores os teus olhos relembra-me. Abre esta porta, sobe as escadas, toca. Também tenho um copo para te matar a sede.
domingo, 4 de maio de 2008
No fim
Tudo tão confuso
e às vezes não sei se sei caminhar
Tudo distorcido quando o horizonte devia ser plano
Tudo igual ou diferente quando deveria ser só diferente ou igual
Só quero um sorriso
Dás-me?
Não preciso de tudo
As tuas mãos agarram as minhas, não é isto quase tudo?
Dá-me um sorriso, depois consigo roubar-te outro
Se eu fechar os meus olhos,
se eu os fechar,
mostras-me o teu mundo?
Caminhas comigo? Olhas para mim? Olhas por mim?
Pede-me um sorriso,
são tantos os que tenho para te dar.
e às vezes não sei se sei caminhar
Tudo distorcido quando o horizonte devia ser plano
Tudo igual ou diferente quando deveria ser só diferente ou igual
Só quero um sorriso
Dás-me?
Não preciso de tudo
As tuas mãos agarram as minhas, não é isto quase tudo?
Dá-me um sorriso, depois consigo roubar-te outro
Se eu fechar os meus olhos,
se eu os fechar,
mostras-me o teu mundo?
Caminhas comigo? Olhas para mim? Olhas por mim?
Pede-me um sorriso,
são tantos os que tenho para te dar.
Burros
Não gosto de responder a perguntas
O que me pedes
não dou
O que procuravas
já se foi embora
Não estou aqui para agrados nem caprichos,
já me bastam os meus
Com facilidade te defino os meus objectivos,
Sobressai sempre o que nos separa
E, como se do destino do mundo se tratasse,
perdemos horas discutindo metas,
mas só as metas que nos dividem
É indiferente que sejam a minoria
O importante é o consenso unitário,
não o equilíbrio de forças
Forçamo-nos a caminhos que não queremos
Não sei se seremos burros teimosos
ou só burros
O que me pedes
não dou
O que procuravas
já se foi embora
Não estou aqui para agrados nem caprichos,
já me bastam os meus
Com facilidade te defino os meus objectivos,
Sobressai sempre o que nos separa
E, como se do destino do mundo se tratasse,
perdemos horas discutindo metas,
mas só as metas que nos dividem
É indiferente que sejam a minoria
O importante é o consenso unitário,
não o equilíbrio de forças
Forçamo-nos a caminhos que não queremos
Não sei se seremos burros teimosos
ou só burros
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Sete anões
Gosto das flores e da primavera mas elas dão-me alergia.
Como tanto por aí: eu gosto mas meu corpo rejeita.
Não me deixo intimidar.
Haverá sempre um lenço de papel por perto.
Bandeira branca.
Por isso vou, espirrando mas vou.
Como tanto por aí: eu gosto mas meu corpo rejeita.
Não me deixo intimidar.
Haverá sempre um lenço de papel por perto.
Bandeira branca.
Por isso vou, espirrando mas vou.
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