Escolhi hoje para pôr um ponto
a lápis, porque amanhã posso querer apagar
não gosto de ter predefinições em matérias que não conheço
ou que são voláteis como o tempo
No calor do sol que hoje se fez
senti o tecido da roupa colado ao tecido da pele
a mesma orgânica e a falta de vida
Escolhi este dia
É mundana qualquer procura de identidade,
tentativa de afirmação
ou assumida negação
Fico convictamente sem convicção,
discuto sem qualquer tipo de coerência
e evito as questões que não me apetece responder
Prefiro as minhas conversas de botões,
até me entendo bem comigo,
e não me aborrece que me olhem de lado
Os ângulos de visão são sempre relativos
Seria bom se desligasse a minha mente com um comando
coordenando assertivamente só os movimentos irreflectidos
É cansativo ser eu,
ser vários eus
e algumas vezes nem querer nenhum
É por isso que alguns deles ficam sempre inacabados
será por isso que me sinto incompleta?
quinta-feira, 19 de junho de 2008
quarta-feira, 18 de junho de 2008
In conformismo
Lá fora é a vontade deles que impera. Aqui dentro fecho-me, ponho trancas na porta da vida, não quero nada que venha do tudo de nada deles. Prefiro a minha mortal dormência, o estado latente, o estado pendente, o meu estado estático ou estridente. Escolho a minha solidão aparente, enganando-os. São tão fáceis de iludir: um sim é sempre um sim por mais que os meus olhos reflictam, quase em absoluta falta de controlo, a minha vontade de vos esfregar uma bofetada. Ou várias. Porque em assumida convicção quero que se fodam nos vossos pragmatismos e lógicas das coisas. Prefiro a batata no lugar da vossa. Não há moral nenhuma nos passos que dão. Não há dignidade na ausência de escolha, de vontade. Partilho de uma estranha forma de existir que não é só minha, há mais loucos por aí. Não há nada de misterioso na humanidade: a mim fascinam-me os impulsos animais e as necessidades básicas. O absurdo e a decadência humana, a opção pelo ridículo, pelo descontrolo, pelo extremo. É preciso ter a cara no lodo para saber a que sabe por isso não me venham com as histórias inventadas daquilo de que nunca sequer estiverem perto. É na física das coisas que estamos todos, engolidos em destroços que as mentes invadidas por códigos fingem não ver. Há mentiras cuspidas em todas as pedras da calçada, nos saltos dos sapatos que não servem para nada e nelas se afundam. Onde está o pragmatismo da formalidade? Onde estão os brilhantes na luta cega de todos os dias? Não os vejo a lavar as escadas que sobem.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Caixas
Numa tela branca
construída de dedos
sugam-se linhas dispersas absorvidas de vácuo
Sem ninguém entender
ocupam-se enlaçadas cores
Os dedos salpicam nas mãos que tremem
É o que não se diz que se desenha
está ali
tão nítido na ausência de significados
Porque a verdade é feita de pequenos nadas
na simplicidade da água que escorre em janelas frias
Desconstruída a história ainda por contar,
nos uivos das distâncias
nas cordas dos dias
Tudo muda,
metamorfose nunca acabada
Tudo cessa,
voltando depois do avesso
A simetria pode ser irregular
quando adormecemos ao sabor do vento
e se encaixam desejos
construída de dedos
sugam-se linhas dispersas absorvidas de vácuo
Sem ninguém entender
ocupam-se enlaçadas cores
Os dedos salpicam nas mãos que tremem
É o que não se diz que se desenha
está ali
tão nítido na ausência de significados
Porque a verdade é feita de pequenos nadas
na simplicidade da água que escorre em janelas frias
Desconstruída a história ainda por contar,
nos uivos das distâncias
nas cordas dos dias
Tudo muda,
metamorfose nunca acabada
Tudo cessa,
voltando depois do avesso
A simetria pode ser irregular
quando adormecemos ao sabor do vento
e se encaixam desejos
sábado, 14 de junho de 2008
Madrugada
Se eu semear nos teus poros os segredos de mim
Se todos os dias cuidar deles,
todos os dias cuidar de ti,
deixas-me todos os dias ser feita das raízes que te ocupam?
Conquistar-te pela pele,
em pequenas doses
pequenos novelos de ar
As somas, as sobras, as solas
todas
as que ninguém quer
Delas, todas, tudo tiro
Tudo dou
Não vês no beijo sem luz que nos faz brilhar?
Vês
(eu sei)
Sussurro
Se todos os dias cuidar deles,
todos os dias cuidar de ti,
deixas-me todos os dias ser feita das raízes que te ocupam?
Conquistar-te pela pele,
em pequenas doses
pequenos novelos de ar
As somas, as sobras, as solas
todas
as que ninguém quer
Delas, todas, tudo tiro
Tudo dou
Não vês no beijo sem luz que nos faz brilhar?
Vês
(eu sei)
Sussurro
Subscrever:
Mensagens (Atom)