sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Gelo

A menina fugiu
Ingenuidade descascada,
em gomos repartida a verdade do mundo
Não há mãe
Não há pai
Não há casa nem tecto
só estás cá tu

As únicas ferramentas são a tua cabeça
e as tuas mãos
Que vais construir?
Em pregos cravados,
projecto de menina,
já quer sapatos altos
Sem saber nada
sabe que tem de saber
Não tudo
(sabes que não foste feita para tanto)
só o necessário para não olhar mais para trás
Em véus enganados os dias antigos
Em rectas a estrada que vem

Dou conta do que fizeste contigo
Estava escrito assim,
bem sei
Em fórmulas, quadrados,
tua razão dominando tua fragilidade,
tua vontade de fugir
teu desejo esquecer
Preço alto, concedido desejo
Choras baixinho
na ausência de lembranças,
dor que se repete
Tu sabes porque te esqueces

Regras demais também erram
Gelo nos olhos
Distância de ti que ninguém percorre
Intimidadores olhos
mesmo que não se vejam
Distância forçada em segredos para esconder

A menina fugiu
Há quanto tempo?
Não me lembro dela só de ti
Tua casca arrancada cedo demais
Falta de sol,
os gomos amargos
e tu querias doce
Não te canses
Culpa tua
Culpa deles
Sem culpa
Tens folhas brancas ainda
Tens tempo
Segue
Voltar atrás não adianta

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