domingo, 13 de janeiro de 2008

Fumo

O fumo espesso da minha chávena põe-se entre nós,
confiante
Eu, que bebo
Tu, a fotografia
teu sorriso estático
tua falta de movimento
tua mudez
Estremeço porque oiço
Fotografias também falam
Guerra escondida, secreta
Secretamente observo
Observo mesmo sem fotografias
Observo mesmo que tudo seja negro como o café que arrefece…
esqueço-me da chávena nas mãos
Queimam
as mãos
as tuas as minhas
as minhas quando tocam as tuas

Nem sei que sinto por ti
Nem sei se te procuro mais quando não te procuro
Não sei se te ignoro ou te imploro,
se te quero perto ou distante
Sei que quando estás distante estás mais perto

O teu erro sou eu
Mãe da culpa,
tua culpa que cresce em mim como um feto
Não se vê
mas muda os meus contornos,
as minhas formas,
como um feto
A mim
Mudo eu com o teu erro, a tua culpa
Esqueço, reconheço, perco, destruo
recebo, não dou
Agarro-o nas minhas mãos
à tua frente
(quero que vejas porque não vou dar-te)

Jogo em silêncio com imagens,
pigmentos sem vida
Acabarei como fumo,
entre o tempo e as memórias
num pedido
numa súplica
num resto de prato que ninguém quer
Mãe sem filho para embalar
embalada pela tua nossa culpa
Culpa de nada
Porque de nada também se pode ser culpado

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