Saíste aquela porta azedo comigo. “Ninguém pode não saber nada”, dizias. Queria dar-te razão, sentar-me ao teu lado e partilhar contigo, mesmo que apenas uma partilha de discórdias. Tu só não entendes a falta de partilha. Queria-o, verdade. Como poderei dizer-te que o queria de verdade? Acho que esgotei os meus cartuxos de oportunidades contigo. Tu és tão sólido, tão tu. Como? Mais ainda: como consegues olhar-me e ter compaixão? Porque és sempre tu que voltas e não me deixas ir. Já sabes que me deixando eu me deixava ficar. Por aqui. Por aí. Por dentro e por fora. Sou demasiado enfadonha para suscitar sequer compaixão. Nem sei se a tua compaixão é boa, se a quero, se uma dádiva ou uma esmola. Sei que nunca estou no caminho certo, teimo em não estar. Mais não é do que um capricho. Se não fossem os meus caprichos eu não saberia de que matéria sou feita. Tu sabes mais de mim. Muito mais. É por isso que te incomoda, por isso que te impacientas: tens a solução, sabes aplicá-la, sabes-me bem. Só não sabes como não sei. Não entendes como se pode querer partilhar, ter esse desejo, e não o fazer. Não o faço, não o consigo, queria explicar-te e não sou capaz. É uma questão de conchas. Posso pedir-te perdão. Um perdão inconvicto, perdão de consciência pesada (será?) de um qualquer pedaço que terei em dívida. Qualquer coisa indefinida. O perdão fica sempre bem. Honesto, incoerente, concreto ou abstracto. É sempre um perdão. Não o peço, prefiro carregar a minha consciência. Nem sei se me perdoarias se somente deixarias arrastar os dias, quase sem saída. Um não perdão e uma guerra em troca, bem sabes. A guerra de mim, evidenciando-se minha essência amarela, ou pior (?) minha falta dela. Isso é o que queres ver sem ver, é ali que está a tua fronteira, aquela que te separa de mim sempre que chegas mais perto. Se passas és tu na minha pele.
A derrota, a minha na minha falta de solução, a tua na tua minha insolúvel solução.
Queria-o de verdade.
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