E se as vespas passarem a fazer mel?
E se eles, no inferno, chorarem nossa ausência?
Imagino-te a invocar o perdão que nem sequer sentes
Quase te vejo andando de costas,
olhos no chão
Assim podes dizer que cais
justificação lógica e absoluta
Fico sem força de repetir
Fico-me
Sento-me
Minhas costas doridas têm muitos mais anos que eu
curvadas por dentro,
curvadas nas sombras
Meus pés esfolados,
eu na cadeira,
a mão no queixo
e fico a ver-te sem que ali estejas
Abre-se um pano de palco invisível,
luzes ofuscantes projectadas pela minha testa
e ali estás tu naquele palco negro
Aqui, nesta cadeira velha,
rangendo, rachada, rija
estou eu
num cenário que são só de páginas envelhecidas
Que fizeste contigo?
Lês nos meus olhos o deserto que agora há?
Perdi todas as lágrima,
espremi lençóis molhados para não as esgotar,
implorei que não secassem
agora não tenho mais
Resta-me isto
ver-te daqui,
rodeada de distâncias tão fáceis de percorrer
e sentir-me só(mente)
É este cansaço de vozes frias,
azedas de tempo apagado que não volta
Esta mágoa em forma de repulsa
esta inércia dos meus dedos
Porque é que te negas?
Porque é que eu te aceito?
Onde está a audácia de te contrariar?
Para estar sendo precisei deixar-te,
bem sei que nunca me chamaste
Eu
Deixei-te
E agora, agora sou sempre assim
rodeada de distâncias
não quero nada perto de mim
não quero isto
não sei que quero
3 comentários:
As lágrimas não se podem perder: são os nossos cristais. :-)
e como os cristais, tão frágeis...
Há quem chore para dentro; em tom de pulsação.
Há ainda quem não saiba como chorar; traduzindo outra imagem.
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